~Sam narrando ON~
Tudo aconteceu rápido demais. Nunca tinha visto tanta fúria nos olhos de uma pessoa tão pequena. Era uma ira tão intensa, que ninguém conseguiu fazer nada de imediato.
Ela saiu correndo e Bobby acordou do transe. Quis se explicar, mas ela nem sequer parou pra tentar ouvir.
- SEU PAI SALVOU JOHN! - Bobby gritou desesperado. Eu nunca tinha o visto daquele jeito. Quando viu que Sierra já havia saído, sentou no sofá e colocou as mãos na cabeça.
- Eu sou um imbecil. - ele disse. Helen mexeu-se, inquieta.
- Desculpem, eu pensei que ela soubesse. - disse ela.
- O que você falou pra ela ficar desse jeito? - Dean perguntou.
- Eu não cheguei a contar, eu nem sequer toquei no nome do pai dela. - Helen disse, com voz embargada. Bobby disse pra ela não se preocupar, e que mais cedo ou mais tarde ela iria descobrir a verdade.
Imaginei como Sierra estaria naquele momento. Dirigindo naquele estado.
Sem pensar ou comunicar algo a alguém, peguei discretamente a chave do carro de Dean, que estavam soltas em cima da mesa de estudo, e saí da casa rapidamente.
Ouvi o grito de Dean quando já estava com o carro em movimento. Vi ele correndo em direção ao carro, mas não conseguiu me alcançar.
"- Seu pai nunca te levou no penhasco que fica no final da estrada principal? - Sierra me perguntou enquanto escolhia um pedaço de pizza.
- Não, porque? - perguntei. Friends passava na TV, e nós parecíamos duas pessoas normais conversando. Eu me sentia assim.
- Porque foi lá que seu pai e o meu pai me ensinaram a atirar. Sempre que venho aqui, vou lá pra me lembrar deles... - ela contou sorrindo fraco."
Como um estalo essa memória veio a minha mente. E eu já sabia onde encontra-la.
~Sam narrando OFF~
~Sierra narrando ON~
Eu pisava com força no acelerador. As lembranças daquele dia vinham cada vez mais claras. Percebia detalhes que naquela época eram quase borrados pra mim.
Depois de alguns minutos dirigindo rapidamente, cheguei no penhasco. Meu lugar favorito em todo o mundo.
Sai do carro e sentei em uma pedra. De lá de cima, podia-se ver toda a cidade. As luzes lá embaixo refletiam nos meus olhos. E eu deixei as lágrimas caírem.
Vinha sendo forte por muito tempo. Desabei pela primeira vez, desde o dia em que Bobby me disse que eu precisava ser forte.
Eu estava exausta.
Não sei quanto tempo passou quando ouvi um carro se aproximando dali. Como reflexo, coloquei a mão na cintura, verificando se minha pistola estava ali.
O Impala preto estacionou do lado do meu Porsche. Uma bonita dupla, pensei. Eu sabia que era Sam que havia chegado.
- Não deveria ter ti contado sobre esse lugar. - falei limpando as lágrimas do meu rosto quando ele se aproximava.
- Tarde demais. - ele disse. Sentou do meu lado, na enorme pedra.
- Verdade. - falei sem olha-lo.
- Linda vista. - ele disse. Concordei com a cabeça. Ficamos em silêncio durante alguns minutos.
- Quer conversar sobre o que aconteceu? - ele perguntou um pouco envergonhado. Eu pensei em silêncio durante dois minutos, antes de falar.
- Tudo o que eu sabia naquele dia, era que Bobby e John haviam rastreado um demônio que estava perseguindo uma família e que eles iriam pra lá tentar impedir. Meu pai, por alguma razão, sabia que eles não dariam conta. Concordou em me levar junto, mas me fez prometer que eu ficaria dentro do carro. Ele sabia das minhas intensões, sabia que eu ignoraria a promessa e iria atrás dele dentro da casa. Então me trancou com duas algemas dentro do carro. Quando eu vi o fogo explodir metade da casa, eu sabia o que tinha acontecido. Consegui quebrar o vidro do carro com um chute, mas não havia como tirar minhas duas mãos das algemas. Vi John e Bobby pela janela. Depois de alguns minutos os bombeiros chegaram e eu os vi controlando o fogo. - disse chorando.
- E depois? - Sam perguntou suavemente.
- Depois que o fogo se apagou, John veio até o carro. Ele sabia que eu estava lá. Me soltou e impediu que eu corresse até a casa. Só me abraçou, se desculpou e disse que cuidaria de mim. - funguei. Sam colocou uma mão no meu ombro.
- Ele nunca disse o que tinha acontecido lá dentro? - Sam perguntou indignado.
- Não. E eu nunca tive coragem de perguntar. - falei. Sam só colocou um dos braços em volta do meu ombro, e me trouxe pra perto dele. Chorei como nunca tinha chorado na frente de alguém.
Eu chorei sem parar, até acabar adormecendo de cansaço.
~Sierra narrando OFF~
~Sam narrando ON~
Sierra soluçava. Eu deixei ela chorar. Fiquei ali, sem falar nada, só abraçando-a e deixando-a chorar o quanto ela podia. Depois de uma hora, ela acabou dormindo.
Eu estava numa posição desconfortável, mas não me mexi, com medo de acordar ela. A minha camisa estava toda molhada com as lágrimas dela.
Fiquei pensando no que ela havia me dito. Ela não deveria ser muito mais nova que eu. Mas mesmo assim, havia enfrentado e assumido a caçada como eu nunca tinha feito.
Eu só estava caçando, porque Dean estava do meu lado. Ela já não. Não havia ninguém por ela, e ela fazia tudo sozinha.
Uma hora e meia passou, até que Sierra acordou.
- Acabei pegando no sono. Desculpa. - ela falou, bocejando.
- Sem problemas, não queria acordar você! - disse. Ela sorriu fraco.
- É, foi bom dormir um pouco. - ela falou. Concordei.
- Tá mais calma? - perguntei. Ela assentiu. - Vamos pra casa?
- Vamos. - ela disse se levantando. Levantei também, mexi o ombro. Ela riu.
- Sam? - ela chamou, enquanto caminhávamos na direção dos carros.
- Oi? - respondi, olhando pra ela.
- Obrigada! - ela sorriu sem jeito, apenas sorri de volta. Ela entrou no seu carro e eu entrei no carro do meu irmão. Dei a partida.
- Dean vai me matar. - murmurei.
Ela foi na dirigindo na frente. Manteve a velocidade normal, para me mostrar que já estava calma.
Estacionamos no Ferro Velho Singer. Descemos do carro e antes de que ela conseguisse chegar até a porta, Dean abriu a porta e veio na minha direção.
Tudo o que eu vi foi sua mão vindo na minha direção, antes que eu pudesse desviar. Cai no chão e senti a dor alucinante no meu nariz.
~Sam narrando OFF~
~Sierra narrando ON~
Sam estava atrás de mim quando Dean apareceu que nem um raio e o acertou com um soco que o derrubou no chão. Toda a raiva que havia guardado dele, despertou. Puxei a pistola que estava no meu bolso esquerdo e apontei para a testa dele. Tão próximo e tão rapidamente que ele ficou vesgo quando olhou para a ponta de uma das minhas Berettas 92. Ele arregalou os olhos.
- Sierra? - Bobby apareceu a esquerda de Dean. Em outro movimento rápido, puxei a segunda Beretta no meu bolso direito. Bobby parou de andar na hora.
- Dean, nenhum movimento brusco. - Bobby falou, quase sem mover a boca, me olhando nos olhos. Sustentei o olhar. Eu tinha certeza de que ele via nos meus olhos o tamanho da minha raiva. Helen chegou na porta da entrada atrás de Bobby, percebeu o que esta acontecendo e não falou nada. Meu olhar ia de Bobby a Dean, nenhum deles ousava se mexer.
- Sierra. - Sam me chamou com voz abafada. Voltei a realidade, quando o olhei lavado de sangue e tentando levantar do chão, mas não conseguindo. Abaixei as armas e fui até ele.
Ajudei-o a levantar e o guiei para dentro de casa. Ninguém tentou ajudar. Se afastaram do caminho tão rapidamente que era como se Moisés estivesse abrindo o Mar Vermelho.
- Sente ali, vou pegar o kit de primeiro socorros. - levei-o até a sala e sai correndo pro banheiro.
Voltei rapidamente, e o que vi me pegou de surpresa. Sam estava escorado no encosto do sofá, sem camisa. Ele a usava para estancar o sangue que escorria do seu nariz.
Meu ar fugiu dos meus pulmões quando o olhei. Sem dúvidas, era o peitoral e barriga mais bonitas que eu já havia visto. Sam abriu os olhos, e me viu ali parada o encarando.
- Tem trauma de sangue? - perguntou inocentemente. Disfarcei.
- Shhh, não fala nada. - falei, me aproximando dele, e tirando a camisa da sua cara.
O nariz estava torto. Dean era um completo imbecil.
- Está quebrado. - ele adivinhou.
- Está. Seu irmão é um imbecil. - falei.
- Concordo. - ele gemeu.
- Isso vai doer um pouco. - falei.
- O que? - segurei o seu nariz e o coloquei no lugar. Sam mal havia perguntado e berrou de dor.
- Desculpe. - disse. Ele respirou fundo duas vezes e se acalmou.
- Relaxa. Obrigado. - ele disse. Limpei o sangue do seu rosto.
- Não seja por isso. - dei uma última olhada no seu abdomem e virei as costas.
Estava guardando as coisas de volta no estojo quando ouvi barulho em direção a sala.
- Precisamos conversar. - Bobby disse, com voz fraca.
- Não tenho nada a falar com você! - disse.
- Sierra, me escuta. - ele implorou. Virei em direção a ele, com as mãos na cintura.
- Ok, fale. - disse simplesmente.