~Sierra narrando ON~
O susto me despertou completamente. E depois a raiva me ajudou a perder o sono.
Deitei na cama, respirei fundo e tentei dormir. Com muito esforço eu consegui. Mas minha felicidade nunca dura. Parecia que eu tinha fechado os meus olhos por somente dois minutos quando ouvi distantemente a voz de Bobby chamando meu nome.
- Sierra! Vamos, acorde! Temos que pegar a estrada daqui a meia hora. - ele dizia, abrindo a porta.
Eu estava completamente coberta pelo o edredom, por isso só coloquei a mão esquerda pra fora pedindo mais cinco minutos. Bobby saiu do quarto. Mas voltou logo depois.
- Vamos, já passou dez minutos. Não quero me atrasar por sua causa. - ele disse, puxando as cobertas de cima de mim.
Sentei na cama bufando. Olhei pra Bobby e ele riu.
- Bom dia, panda! - e saiu rindo do meu quarto.
Levantei e fui até o espelho e tive que rir também. Eu estava totalmente descabelada, o rímel e o lápis de olho preto haviam derretido, formando duas bolas em volta dos meus olhos.
Vinte minutos depois eu já estava pronta, na sala esperando por eles.
- Vocês não me apressaram tanto? Agora eu tenho que esperar. - falei cruzando os braços na cozinha.
- Não temos culpa, se você é a única garota no mundo que se arruma rápido. - Bobby disse, me dando um copo cheio de leite.
- O que estamos esperando? - perguntei.
- Sam tomar banho. - Helen disse.
- Quem vai? - falei puxando uma cadeira.
- Helen, eu, você e Sam. - Bobby disse abrindo o jornal.
- Porque o preguiçoso do Dean não vai? - perguntei olhando pela janela.
- Alguém tem que ficar aqui, cuidando e estudando a Colt. Não temos tempo a perder. - Bobby respondeu.
- E a loira vai ficar pra estudar também? - falei ironicamente.
- Não quero que vocês acabem matando uma a outra. - Helen disse, eu ri concordando.
- Você tem bom senso. - disse pra ela, Bobby bufou.
- Estou pronto. - Sam falou, aparecendo na porta sacudindo com a mão o cabelo molhado. Suspirei.
- Já não era sem tempo, Justin Bieber. - Bobby zombou, eu gargalhei.
- Tá muito engraçadinho hoje, Bob. - falei, ele ignorou. Saímos da cozinha, pegamos nossas mochilas e fomos até aonde os carros ficavam.
- Vamos todos no meu carro. - Bobby avisou.
- Nem pensar. Não vou deixar meu carro aqui. - falei.
- Mas Dean vai ficar pra cuidar. - Sam disse.
- Por isso mesmo. - argumentei.
- Ok. Sam, você vai com essa chata que bebeu quase toda a minha única garrafa de Absinto. - ele disse me olhando feio.
- Você guardava aquela garrafa pra suícidio, não é? - debochei.
- Sim, só eu sei o quanto eu tive que subornar pra ter aquela garrafa. - ele disse de mau humor, indo até seu carro.
- Ah, para de reclamar. - falei rindo.
Sam e eu entramos no meu carro, e ele olhou tudo com admiração.
- Incrível. - ele disse. Eu sorri.
- Meu tesouro. - falei carinhosamente para o carro, ele riu.
- Como conseguiu? - ele perguntou.
- Salvei um bilionário das mãos de um metamorfo. - disse dando de ombros. Dei a partida e segui Bobby até a estrada.
- Grande recompensa. - ele disse rindo fraco.
- Concordo. - falei.
- Sempre gostei de carros assim. - Sam falou depois de uns minutos de silêncio, puxando assunto.
- Pensei que você fosse que nem o seu irmão. - falei.
- Como? - ele perguntou com um ar ofendido. Eu ri.
- Ah, que gostasse de coisas velhas. - disse, ele riu também.
- Não. Dean é mais parecido com meu pai. - ele falou com um tom de voz estranho.
- Percebi assim que o conheci. - comentei.
- Meu pai era o heroí de Dean. Ele tenta ao máximo ser como ele. - Sam disse olhando pela janela. Pensei bem nas palavras que iria falar.
- Parece que você não se dava tão bem com John assim... - falei com cuidado. Sam me olhou.
- Não muito. - ele concordou.
- Porque? Ah, deixe-me adivinhar: Você não queria ser um caçador. - brinquei.
- Acertou de novo. - ele riu.
- Porque não? Correr risco é tão bom, salvar pessoas e nem receber um "muito obrigado" das pessoas é recompensador. - ironizei, nós rimos.
- Sempre quis ser normal. Tentei ser por um tempo, mas não deu muito certo. - Sam falou, dando de ombros.
- Bobby me contou uma vez que você estava na faculdade. - comentei, ainda seguindo o carro de Bobby.
- Sério? - Sam perguntou surpreso.
- Sim, teve um tempo em que o grande sonho de Bobby era me ver na faculdade também. - revirei os olhos com essa idéia.
- E você não quis? - perguntou.
- Era o sonho de Bobby, não o meu. - falei séria.
- E qual é o seu sonho, então? - ele perguntou sorrindo.
- Caçadores não podem ter sonhos. - falei olhando para a estrada.
- Você não sonha em ter uma família, ter uma vida normal, feliz? - Sam se espantou.
- Você conhece algum caçador que tenha ou teve uma vida normal e feliz? - perguntei em resposta, o que fez Sam ficar em silencio.
- Só porque ninguém fez, não quer dizer que é impossível. - ele disse depois de alguns segundos quieto.
- O seu sonho é esse, então? - perguntei, ele sorriu sem jeito.
- Eu ainda acredito que eu possa ser feliz. Você não? - ele disse.
- Eu não digo que eu sou feliz, mas estou satisfeita com a vida que eu levo. Pode zoar meio cliché, mas nós caçadores somos uma menoria, que sacrifica a nossa "vida feliz" para que outras pessoas sejam felizes. - respondi.
- Então, você é uma pessoa sem esperança. - ele disse, nós rimos.
- Talvez, eu só não me imagino mãe de família, cuidando do jardim, esperando meu marido chegar em casa do bar antes de servir o jantar. - falei, fazendo Sam gargalhar. - Família nos faz vulnerável. Ainda mais se nos casarmos com pessoas normais, que não sabem o que a gente sabe. Eles vão ser sempre nosso ponto fraco, e colocaremos eles em risco sempre. - continuei.
- Credo, parece meu irmão falando. - ele comentou rindo.
- Sério? Então esquece que eu disse isso. - falei brincando.
Uma hora depois, Bobby nos ligou avisando que o bruxo tinha entrado em contato, falando que estava nos esperando numa lanchonete na próxima cidade que entrariamos.
- Tem medo de velocidade, Sam? - perguntei.
- Não, porque? - ele perguntou, receoso.
- Então vou ti mostrar o que o meu Jack pode fazer. - falei sorrindo.
Fui pro acostamento para ultrapassar o carro de Bobby, que estava na frente. Coloquei o Porsche ao lado da Maverick de Bobby, abanei pra ele, buzinei e acelerei deixando-os pra traz facilmente.
Sam sorria olhando pela janela do carro. Eu sorria também, porque velocidade sempre me deixava em ecstasy. Eu sentia o vento entrando pela janela e me sentia bem, como sempre acontecia quando estava dirigindo.
Mas essa sensação boa não durou muito. Eu acabei me lembrando para onde nós estavamos indo. Ou melhor, com quem nós iriamos nos encontrar.
Comecei a suar frio. Minhas mãos começaram a resbalar no volante. Tentei secar as mãos na calça sem que Sam visse, mas ele estava ocupado degustando a adrenalina para perceber o meu nervosismo.
Assim que parei na frente da lanchonete que o bruxo estaria, abri o porta luvas e peguei um atilho de cabelo e sai do carro.
- Vamos entrar ou esperar? - Sam perguntou. Em resposta, só me escorei no carro e comecei a prender o cabelo de qualquer jeito.
Não estava calor, o que impedia que eu pudesse usar essa desculpa por estar me desfazendo em liquidos de tanto nervosismo.
Percebia que Sam estava me observando. Mas eu desviava o olhar sempre que ele estava me olhando.
- Porque está tão nervosa? - enfim ele perguntou. Só o olhei, virei o rosto logo em seguida sem responder.
Vinte minutos depois Bobby estacionou o carro atras do meu.
- Até que enfim. - falei. Bobby me olhou feio.
- Não tenho culpa se você quis dar uma de Papaleguas! - ele disse, ignorei. Depois disso, Bobby me lançou um olhar tranquilizador.
Entramos os quatro na lanchonete. Helen olhou em volta e apontou para uma mesa perto da janela, onde um rapaz aparentando ter uns trinta anos estava sentado sozinho. Bobby e Helen foram até a mesa, Sam os acompanhou. Eu fui na outra direção e sentei no balcão do caixa. Pedi um refrigerante e tentava não olhar para aonde eles estavam.
Alguns minutos depois senti um beliscão no braço. Olhei para o lado e Bobby estava lá me olhando com cara feia, como sempre.
- Que foi? - falei.
- Ah, qual é!? Vai querer bancar uma de menininha traumatizada? - ele perguntou debochando.
- Cala a boca! Você não sabe do que você tá falando! - respondi, voltando a atenção para o copo.
- Sei sim, por isso estou aqui! Se não só voce e Sam viriam. - ele disse, sentando no banco ao lado do meu.
- Mentira sua. - falei rindo. Ele bufou.
- É, mentira mesmo, nunca deixaria isso na mão das crianças. - Bobby provocou.
- Ok, mestre múmia. - ironizei.
- Sério Sie, supere. - ele disse.
- Me deixe em paz, velho. - falei. Ele revirou os olhos.
- Ta bom, ele vai nos levar aonde ele está instalado, para podermos ver o que podemos descobrir. - Bobby disse, e eu abri a boca escandalizada.
- Você é estupido ao ponto de ir a casa de um bruxo? - perguntei.
- Primeiro: Nós sabiamos desde o começo que isso ocorreria, ou você acha que ele vai fazer algum feitiço com platéia? Segundo: Ele não é um bruxo, ele é um médium. - Bobby argumentou.
- Ah claro, isso muda muita coisa. - disse ironizando. Ele bufou.
- Não me importo o que você acha, nós vamos até o lugar com ele e pronto. - ele disse.
- Ok chefe, e aonde é esse lugar? - perguntei.
- Uma casa abandonada aqui por perto. - ele respondeu.
- Invasão, que confiavel. - zombei.
Ele voltou até onde os outros estavam, falou alguma coisa e logo depois todos nós estavamos saindo da lanchonete.
- Carro legal. - o bruxo falou, me olhando. Virei o rosto e entrei no carro.
- Você vem comigo, Joseph. - Bobby disse, preenchendo o silêncio que eu tinha deixado.
Sam entrou no carro e fez mensão de querer perguntar algo.
- Sem perguntas. - avisei antes, ele fez careta mas deixou passar.
Bobby, como sempre, foi na frente mostrando aonde era o lugar. Paramos os carros em frente a uma casa de dois andares, que um dia talvez tenha sido pintada de amarelo, mas de tão encardida, não conseguiamos ver a cor.
Avisei a Sam que ficaria no carro, ele só assentiu e saiu do carro. Observei Bobby, Helen e Sam entrando na caso com o bruxo, e me senti completamente inutil.
Coloquei o CD dos Beatles para tocar, e fiquei ali, tentando me acalmar. Fechei os olhos e fiquei pensando em como seria bom ter uma vida normal. Ter sonhos normais, ou pelo menos, alcançáveis.
Não me lembro direito, mas acho que de tanto pensar nisso, acabei pegando no sono.
~Sierra narrando OFF~